Carlos Reis: Um intelectual com cultura literária "absolutamente impressionante"

O catedrático Carlos Reis recordou hoje Óscar Lopes como intelectual com uma cultura literária "absolutamente impressionante" e uma "grande sensibilidade crítica".
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Óscar Lopes, que morreu hoje aos 95 anos, na sua residência, no Porto, "não foi apenas um grande professor e um grande investigador", tendo-se afirmado também como "um grande intelectual, no sentido mais nobre, militante e empenhado do termo", disse Carlos Reis à agência Lusa.

O historiador "era detentor de uma cultura literária absolutamente impressionante, que sempre levava às intervenções que fazia, em conferências, em congressos e em colóquios, sem exibicionismo, mas com um vigor participativo e com uma abertura ao debate invulgares", acrescentou.

"Autor de uma obra vastíssima, como historiador da literatura, ensaísta, crítico literário e linguista (faceta talvez menos conhecida, mas não menos relevante do seu labor), Óscar Lopes foi uma personalidade muito marcada, até 1974, pelo silenciamento e mesmo pela repressão que lhe foi movida pelas instâncias do poder vigente, o que limitou, até então, a projeção da sua atividade como crítico, investigador e professor", lamentou.

Para Carlos Reis, a "História da Literatura Portuguesa", da autoria de Óscar Lopes e António José Saraiva, publicada pela primeira vez em 1953, e objeto de sucessivas atualizações, "ensinou-nos a olhar de forma diferente para a nossa história literária".

Antes da publicação desta obra, a história da literatura era "muito marcada" por "uma perspetiva biografista e às vezes acentuadamente celebratória", segundo o antigo diretor da Biblioteca Nacional.

"A história literária portuguesa passou, a partir da História da Literatura Portuguesa, de que Óscar Lopes foi coautor, a ser relacionada com os contextos sociais, políticos e económicos em que se enquadrava", sublinhou.

A "História da Literatura Portuguesa" conta com "um número invulgar de edições e de reimpressões", o que demonstra "o amplo acolhimento que aquele manual conheceu, por parte de várias gerações de estudantes e de professores, em Portugal e também no Brasil", salientou Carlos Reis.

Na sua opinião, a "formação marxista" dos dois autores era, em 1953, "determinante, mas não contaminava, com uma leitura estreitamente ideológica, os textos e os autores representados" na obra.

Nos títulos que Óscar Lopes publicou, "fica-nos uma herança de grande sensibilidade crítica, de grande argúcia interpretativa e de enorme dedicação à literatura e à cultura portuguesas", disse o professor da Universidade de Coimbra, enaltecendo, designadamente, "uma personalidade tolerante e dialogante, aberta a outras ideias e formas de pensar diferentes das suas".

Óscar Lopes morreu hoje, no Porto, encontrando-se o seu corpo na Associação de Jornalistas e Homens de Letras da cidade, de onde o funeral sairá, no sábado, às 15:30, para o crematório de Matosinhos.

O historiador nasceu em Leça da Palmeira, Matosinhos, em 1917, e foi professor catedrático da Faculdade de Letras do Porto, já com 60 anos, por ter sido afastado da docência universitária, pelas forças da ditadura do Estado Novo.

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